Quando se fala em pimentas, a primeira associação que costuma ser feita é relacionada à queimação que elas proporcionam. Existem algumas variedades que são, de fato, intensas e “inesquecíveis” como as que acompanham o acarajé baiano ou as receitas mexicanas e tailandesas. Mas nem tudo é ardência.
Apesar dos mitos em torno do fruto, ele é capaz de dar um toque de sabor a qualquer tipo de prato e cai bem inclusive com doces. Para entender como isso acontece, primeiro é necessário conhecer um pouco mais sobre o complexo processo que acontece no corpo humano. Quando a pimenta entra em contato com a língua ela libera as capsaicinóides – substâncias presentes na membrana branca que reveste a parte interna do fruto, chamada placenta e na semente. Imediatamente é ativado um receptor de dor do cérebro denominado de nervo trigêmeo. Como o próprio nome já diz, esse nervo liga três órgãos: a boca, o nariz e os olhos. É daí que se explicam a irritação no nariz, os olhos lacrimejando, além da ardência na boca. Terminado este ciclo, resta a sensação de bem-estar a satisfação. Tudo isso ocorre numa fração de segundos e é capaz de potencializar o sabor dos alimentos.
A Capsaisina está presente na placenta e envolta das sementes.
Além das propriedades culinárias, as pimentas são capazes de proporcionar benefícios à saúde. É isso que mostram muitos estudos científicos em torno do fruto. Um deles foi comandando pelos pesquisadores norte-americanos Chopan e Littenberg em 2017 com o objetivo de verificar a associação entre o consumo de pimenta vermelha e a mortalidade em uma população de adultos nos Estados Unidos. O trabalho envolveu 16.179 participantes com pelo menos 18 anos de idade. Observou-se nesse grupo um total de 4.946 óbitos, sendo que a mortalidade entre os que consumiam pimenta vermelha representava 21,6%, contra 33,6% dos que não consumiam (redução do risco absoluto de 12%, risco relativo de 0,64). A conclusão, portanto, foi de que o consumo de pimenta vermelha estaria associado à redução da mortalidade.
Além disso, estudos in vitro e in vivo também reforçam as teses favoráveis às pimentas: aumento de catabolismo lipídico em diferentes órgãos e tecidos, ação anti-inflamatória, antioxidante, anticarcinogênica (induz a apoptose das células cancerígenas) e efeito antimicrobiano.
Pesquisas comprovam os benefícios
Conhecidas há séculos, as pimentas alimentam o imaginário da população e são usadas para os mais diversos fins. Embora muitos dos benefícios sejam conhecidos e comprovados de forma prática, a ciência tratou de comprovar aquilo que muitos já sabiam. Um dos trabalhos neste sentido foi desenvolvido na PUC do Rio Grande do Sul pela nutricionista Márcia Keller Alves, que pesquisou sobre durante o mestrado em Biologia Celular e Molecular.
Segundo ela, a pimenta e descrita como um alimento funcional por apresentar poder antioxidante, anti-inflamatório, antimutagênico e quimiopreventivo. A pesquisadora também identificou a ação digestiva das pimentas. Isso ocorre graças à capsaicina, que estimula as enzimas responsáveis pela digestão ou de secreção de bile. Deste modo, a ingestão de capsaicina diminui significativamente o tempo de trânsito gastrintestinal dos alimentos. Outros estudos apontam que a substância possui propriedade anti-inflamatória e pode ser útil na melhora de doenças inflamatórias e como agente preventivo. Em entrevista ao jornal Zero Hora, Márcia disse que o ardor provocado pela pimenta é um bom sinal. Segundo ela, isso é sinal da presença de capsaicina, que é o princípio ativo do fruto. “É essa substância que faz bem. E quanto mais arder, mais benefícios para a saúde”
Na Faculdade Estácio de Sá, em Belo Horizonte, outro trabalho destacou o alto valor nutricional da pimenta, que é rica nas vitaminas A e C, além de cálcio, ferro, caroteno, fibras, entre outras substâncias. A vitamina A, por sua vez, é apontada como benéfica à visão e ainda ajuda no combate aos radicais livres. A C ainda exerce papel importante em relação à resistência de vasos sanguíneos, dentes e ossos.
Fontes:
http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/5497
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